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Dia Internacional da Mulher: Avanços e Desafios

Atualizado: 31 de mar.




O 8 de março é muito mais do que o Dia das Mulheres, ele é um Dia Político, necessário para pautar reflexões e reivindicar mudanças de comportamento e no aperfeiçoamento das políticas protetivas e equitativas visando a valorização integral das mulheres. Quisera pudéssemos compreender este dia meramente como uma data comemorativa e festiva. Enquanto houver mulheres e meninas sofrendo violência, abusadas e trancafiadas em calabouços, o dia 8 de março continuará sendo um Dia político.


O processo histórico da evolução da mulher no mercado de trabalho, na educação, nos direitos civis vem sendo construído por meio de um longo e árduo caminho, percorrido em meio ao desenvolvimento de um sistema patriarcal e excludente. As mulheres lutaram para obter o direito a profissionalização, melhores condições de vida e trabalho, pelo direito ao voto, direito a igualdade salarial, entre outros. Um processo marcado pela exclusão, marginalização, inferiorização e desigualdades.


A mulher tem um papel muito importante na história, mesmo que muitas vezes colocadas em condições de invisibilidade ou inferioridade. Há que mencionar os desafios cotidianos e inerentes para conciliar a carreira com a maternidade, e o cuidado com a família prejudica muito a igualdade de oportunidades, neste sentido é importante pensar políticas e oportunidades equitativas, não apenas igualitárias. A romantizada “dupla jornada feminina”, evidenciada pela jornada de trabalho com média de quatorze horas a mais por semana, segundo o IBGE, amplia os obstáculos para a igualdade de gênero no mercado de trabalho.


Além disso, há inúmeras mulheres, que além da jornada exaustiva, ainda convivem em regime de violência psicológica, emocional, financeira e física. Segundo matéria veiculada no jornal GZH de 04 de março de 2025, “O Rio Grande do Sul registrou, em 2024, 6.153 denúncias no Ligue 180, um serviço que recebe informações de casos de violência contra a mulher. O montante significa aumento de 6,3% na comparação com 2023, quando 5.787 casos foram reportados, o que faz do Estado o quinto com mais registros entre as unidades da federação no período.” As informações são do Ministério das Mulheres, que divulgou o balanço anual da plataforma na terça-feira 04/03/2025. As ligações para o número aumentaram: foram 23.889 em 2023 e 24.779 no ano passado, diferença de 3,6%.


A 10ª edição da pesquisa Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (2023), mostra que 30% das mulheres do país já sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem. Dentre elas, 76% sofreram violência física, índice que varia conforme a renda. Enquanto 64% das mulheres que sofreram violência doméstica ou familiar e que recebem mais de seis salários-mínimos declaram ter sofrido violência física, esse índice chega a 79% entre as vítimas com renda de até dois salários-mínimos. Este levantamento, realizado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) a cada dois anos, integra série histórica iniciada em 2005 e tem por objetivo ouvir cidadãs brasileiras acerca de aspectos relacionados à desigualdade de gênero e a agressões contra mulheres no país.


Neste contexto, na opinião de 73% das brasileiras, ter medo do agressor leva uma mulher a não denunciar a agressão na maioria das vezes. A falta de punição e a dependência financeira são outras situações que, para 61% das brasileiras, levam uma mulher a não denunciar a agressão em muitos casos. Por outro lado, a falta de conhecimento sobre seus direitos é apontada por menos da metade das cidadãs. Para 48% delas, não conhecer seus direitos leva uma mulher a não denunciar a agressão.


A Lei Maria da Penha (Lei n°11.340∕2006) é um marco no sistema jurídico brasileiro, já que, até sua promulgação, não existia no país uma lei específica sobre violência doméstica. Ao contrário, até então os casos de agressão familiar eram enquadrados como pequenas causas. Apesar de sua importância, 75% das brasileiras afirmam conhecer pouco ou nada sobre a lei. O aumento no número de mulheres que afirmam conhecer muito sobre o instrumento normativo, por outro lado, sugere uma pequena melhora em relação aos índices encontrados no levantamento de 2021.


Há muitos estudos e dados sobre a complexa temática das mulheres, mas isso por si só não basta, é necessário construir redes de apoio e lutas nas diferentes esferas da sociedade e partir em busca de pontes seguras e de reestruturação social fortalecendo e visibilizando todos os grupos em risco.

Neste sentido, conforme os princípios da ONU sobre empoderamento, a liderança feminina promove igualdade de gênero, oportunidades iguais, garantia de saúde, segurança e liberdade em cenários de violência e pleno controle da vida. Mulheres unidas se fortalecem e isso gera empoderamento. Empoderar gera liberdade.


No Brasil, ainda são muito presentes os resquícios de uma sociedade patriarcal em que nem sempre as mulheres se solidarizam com o sofrimento de outras, essas atitudes impedem o empoderamento e rompem com as redes de apoio. Ao fomentar a competitividade maldosa e a indiferença com o sofrimento de mulheres, fomenta-se a criminalidade contra as mulheres, criando justificativas para atos de violência, dificultando a reação de vítimas.


A apropriação e divulgação das leis, dos estudos e dados, que são bastante preocupantes, precisam ganhar as pautas das discussões acerca do Dia 8 de março, gerando reação positiva, empoderamento e desconstruindo o machismo e a invisibilidade da violência contra a mulher. Para o bem da sociedade é preciso neutralizar o discurso negativo sobre a mulher e transformar este universo.


Também os silenciamentos diante das injustiças, seja no trabalho, ao promoverem mais homens do que mulheres em situação de igualdade formativa, muitas vezes as mulheres possuem até mais preparo e instrução, mas os cargos de comando e chefias são direcionados para homens, mantendo a permanência das mulheres em cargos assessórios e com salários mais baixos.

Nesta linha, se verifica também, o preconceito e as dificuldades na atuação política que inibem a participação de maior número de mulheres em cargos eletivos, às vezes elas não contam nem com o apoio da própria família e desistem. É preciso empoderar.


Não é aceitável afirmações sobre a “culpa da vítima”, violência é violência. Degrada, incapacita e cria outras formas de submissão e sofrimentos.  Isso faz com que muitas tenham medo, sintam vergonha de si, desistem e acreditam realmente que merecem o fracasso ou abusos. Cada vez que uma mulher sofre violência e a sociedade silencia, todas nós perdemos. Importante ter em mente que empoderar não se refere somente sobre mulheres, mas sobre todas as minorias, porque as mulheres empoderadas não lutam apenas por si, elas levam junto uma rede de pessoas próximas e distantes, fortalecem comunidades e transformam vidas. Neste sentido, há que ser falado que o empoderamento feminino também contribui para o crescimento econômico, social e político de uma nação.


Para finalizar esta reflexão, cito a frase de uma jovem atriz que despontou ainda criança numa das séries literárias e cinematográficas muito lida e assistida no mundo, intitulada Harry Potter.

Emma Watson disse o seguinte:


Quero que os homens se comprometam para que, assim, suas filhas, irmãs e mães se libertem do preconceito e para que seus filhos sintam que têm permissão para serem vulneráveis, humanos e uma versão mais honesta e completa deles mesmos.


Entre tantas mulheres escolhi Emma pela sua clareza de que os homens são filhos, irmãos e pais de mulheres e que o respeito as mulheres é sobretudo, uma questão de humanização. Escolhi Emma pelo fato de ser uma jovem que entende a importância de assumir, desde cedo, a defesa da integridade e do empoderamento das mulheres, afinal, esta é uma luta que precisa continuar. Precisa continuar, por todas as mulheres que se levantaram e lutaram por nós e pelas novas gerações que ainda precisam nós.



Saiba mais: -A MULHER NA CIÊNCIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS. THE WOMAN IN SCIENCE: CHALLENGES AND PERSPECTIVES. Daniela Maçaneiro Alves

-Pesquisa DataSenado: Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Novembro/2023


* Jussara Prates é escritora, pesquisadora e produtora cultural, transita em diversas áreas da cultura com obras publicadas sobre educação, projetos escolares, educação antirracista, história, história de municípios, literatura, diversidade e educação para o patrimônio. Ativista pela democratização e acesso a cultura é defensora da educação para o patrimônio como forma de valorização e apropriação do patrimônio cultural como elementos geradores de cidadania e identidades. Foi membra do Colegiado Setorial de Memória e Patrimônio do Rio Grande do Sul, trabalhou na área da Gestão da Cultura, foi uma das idealizadoras e Diretora do Museu e Arquivo Municipal de Portão. Coordenadora dos processos de tombamento do primeiro Patrimônio Natural, o Pinheiro Multissecular e do primeiro Registro de Patrimônio Imaterial, o Festival Internacional de Folclore e uma das Curadoras do Memorial Histórico do Parque do Imigrante, todos em Nova Petrópolis/RS. Foi Diretora de Cultura e Secretária Adjunta de Educação, Cultura e Desporto de Nova Petrópolis. É Conselheira de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, participou como conselheira da 6ª Conferência Estadual de Cultura e representou o CEC/RS na 4ª Conferência Nacional de Cultura em Brasília, atuando ativamente na construção da Política Nacional de Cultura. Atualmente exerce a função de secretária da Diretiva do Conselho Estadual de Cultura/RS.

**Historiadora, Bióloga, Conservadora e Restauradora de Acervos, Pós -graduada em Gestão de Arquivos; Supervisão Educacional; Coordenação Pedagógica; Ecologia e Desenvolvimento Sustentável; Botânica; Zoologia e Diversidade, Cultura e Etnicidade



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