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O que deixar meu filho ler?

Helena Klein


Ao mesmo tempo que é dito sobre os benefícios da leitura para as crianças, precisamos pensar nos critérios que norteiam os livros disponibilizados a elas. Recebo com frequência pais que me perguntam: como faço meu filho ler? Ora, não há mistérios profundos nessa parte – você (adulto) é leitor? Nossos filhos são pequenos espelhos e, por alguns anos, farão o que é feito no seu ambiente nuclear – na família.  Se houver oferta de livros e eles entenderem que isso é lazer, é divertido e que faz parte do que representa a sua família, bom, eles automaticamente se entenderão como membros leitores. No início, como uma imitação dos adultos; depois, por curiosidade com ilustrações, texturas, imagens e sons – livros ofertados aos bebês até 3 ou 4 anos.


Em seguida, livros de interação e resolução de histórias, narrados e musicais. Prosseguindo, chegam os livros de pintar personagens, e aqui podemos pensar em um desvirtuamento do objeto livro.  Nessa mesma idade, de 5 a 7 anos, livros destinados ao público infantil que despertam o interesse são aqueles que vêm com brindes, ou conjunto de canetinhas, giz de cera etc. O foco não é a palavra e nem de longe a leitura. Aqui a família pode aliar o agradável ao útil, utilizando almanaques de atividades, que trazem histórias, muitas vezes em quadrinhos – não subestimem esse material para a progressão leitora da criança. Além disso, eles incluem atividades como pintura e desafios. 


A criança saberá ler? Não, porque estará em fase de alfabetização, mas não será infantilizada, pois estará em contato com as letras e com livros. Conforme ela for aprendendo a ler, esse material será ressignificado a partir da imaginação que ela construiu. Sempre digo para deixarem gibis no banheiro, para que, ao fazer suas necessidades, a criança folheie as páginas, criando um hábito. 


Com a progressão como leitora, os livros e desafios precisam acompanhar. Isso não significa abandonar o que já gosta de ler; até hoje leio quadrinhos. Comecei com Disney e Turma da Mônica, passei para gibis mais densos, como os da DC e da Marvel, e, como adulta, tenho obras da Devil, um selo para maiores de 18 anos. Mas aonde quero chegar com isso? Vocês podem estar se perguntando. Chego agora!  Como mãe de uma menina de 10 anos e escritora de livros infantojuvenis, vejo que existe uma faixa etária que padece de livros que atendam aos seus interesses: não são mais tão minimalistas, mas também não possuem maturidade para o conteúdo destinado a quem tem a partir de 13 anos. Claro, existem best-sellers que fisgaram esse público, mas ainda são poucos. Quem tem um filho que não leu Diário de um Banana, por exemplo?


Então, chegamos à conversa que tive com o pai de um ex-colega da minha filha. Ambos estão no 5º ano. Escrevi e publiquei livros para ela porque percebi que ela queria determinadas histórias que não estavam sendo oferecidas. Assim nasceu Short Stories for Fearless Kids, porque ela adora terror e cursa a língua inglesa. Logo, criei um livro bilíngue (inglês-português), apresentando 10 monstros clássicos da literatura para essa faixa etária. Cada conto tem uma ilustração para instigar a imaginação, mas a verdadeira construção da história surge com a leitura. 


O último livro que ela leu foi A Terra do Nunca e o Segredo das Fadas, de Gail Carson Levine, com 200 páginas, garimpado em um sebo pela irmã mais velha. Utilizando a mesma técnica, a narrativa inclui ilustrações belíssimas que pincelam a construção imaginativa criada pela leitura. Com uma letra e espaçamento adequados para o conforto visual, ela adorou e leu em uma semana, mergulhando na história. Agora, sua turma irá ler em conjunto o primeiro volume da saga Harry Potter, que está bem alinhado à faixa etária. Eles farão 11 anos e aguardarão a tão sonhada carta de Hogwarts.


O pai comentou que o filho pediu para ler o best-seller A Sutil Arte de Ligar o Fda-se*, de Mark Manson. Aqui não entrarei no gênero, que é autoajuda, mas na questão de que é um livro com um vocabulário direto, voltado para adultos, e aborda temas complexos que exigem reflexão. Além disso, usa palavrões para dar ênfase em várias partes da obra. Eu não o recomendaria para crianças de 10 anos, mas o pai poderia ler a obra e decidir se o conteúdo é adequado ao que ele imagina ser uma boa leitura para o filho.


Sabe o que ainda é insuperável para essa faixa etária? A boa e velha coleção Vaga-Lume! Ela traz todos os elementos que esse público gosta: aventura, mistérios e enredos fantásticos. Assim como Tinker Bell (a Sininho), que veio de um sebo, essa coleção ainda passa de mão em mão. Quem sabe o próximo par de mãos e olhos seja o do seu filho, na sua casa? Quem sabe?


Se quiser saber mais sobre meus livros infantojuvenis, não há mistério: são pura aventura com enredos fantásticos. A Caixa de Brinquedos, Die Spielzeugkiste (bilingue português-alemão), A Caixa de Brinquedos: O Ano da Pandemia e Short Stories for Fearless Kids (bilingue português-inglês). Além disso, escrevi contos para antologias como O Reino dos Sonhos, A Biblioteca Mágica e Era Uma Vez – todos da Editora Lura.



Helena Klein é hoteleira, psicanalista clínica, professora de inglês e agente cultural. Foi Diretora do Núcleo de Arquivo Histórico e Biblioteca de Nova Petrópolis/RS. É membro do Coletivo de Escritores de Nova Petrópolis e conselheira no Conselho Municipal de Políticas Públicas Culturais, no eixo Livro, Literatura e Biblioteca. Atualmente, é Secretária do Colegiado do Estado Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. Acadêmica do 8º semestre de Licenciatura em Letras – Português, é integrante do diretório acadêmico de Letras Mario Quintana da UCS como Diretora de Cultura EAD e é caloura na graduação de Escrita Criativa/UNIASSELVI.

É autora de romances, contos e crônicas, participou de oficinas literárias e publicou obras coletivas como Contos Contemporâneos. Incentivada por Alcy Cheuiche, publicou A Caixa de Brinquedos - Die Spielzeugekiste, A Caixa de Brinquedos – o ano da pandemia e Efeitos do Amor. Lançou na Bienal Internacional do Livro de SP/2024 o livro Short Stories for Fearless Kids. Além disso, tem várias crônicas e contos em diversas antologias nacionais e internacionais; e e-books como Insanis, Hver Torsdag er Magi e A Casa. Desde 2024, ministra a oficina La Petite Fabrique de Littérature. Faz parte da startup Sinapse Cultural, que tem como premissa a economia criativa e o incentivo e apoio aos produtores culturais: www.sinapsecultural.com.br.



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