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A EDUCAÇÃO QUE ME MOVE E QUE ME TRANSFORMA

Fabiana Machado

Olá amigos e amigas, professores e professoras! Não poderia deixar de dedicar esta carta, também, para dois professores muito especiais e que durante a minha trajetória acadêmica, no curso de Pedagogia, me apresentaram ao mundo freireano e contribuíram para a minha formação acadêmica. In memorian dos queridos Professores Remi Klein e Euclides Redin, a quem faço estes agradecimentos, pois muito do que sou e do que aprendi, enquanto educadora e pesquisadora, teve como base os seus ensinamentos, conselhos, carinho, dedicação e amorosidade. Obrigada Professores Remi Klein e Redin, deixaram marcas, que serão sempre lembradas por mim, em meus atos e posturas freireanas!


Quando descobri a obra do pensador brasileiro Paulo Freire, meu primeiro contato com a pedagogia crítica, encontrei nele um mentor e um guia, alguém que entendia que o aprendizado poderia ser libertador (HOOKS, 2020, p. 15).


Assim como a escritora Bell Hooks, o meu encontro com Paulo Freire, se deu a partir da leitura dos livros “Pedagogia da Autonomia” e “Pedagogia dos Sonhos Possíveis”, e foi com estas leituras que pude perceber a importância do meu papel enquanto educadora, da importância do meu trabalho pedagógico na vida de crianças e estudantes. O respeito à autonomia e à dignidade do “aluno” é um caráter ético, não um favor. O ato de aprender é construir e reconstruir; toda prática educativa demanda a existência de sujeitos que ensinando, aprendem e os que aprendem, ensinam.


Sempre acreditei nesta pedagogia, de afeto, carinho, de valorização dos saberes que cada estudante traz consigo. Uma educação com consciência coletiva, movida pela autonomia, como um processo para todos e todas, que não exclua e não rotule ninguém! É inegável, que atualmente vivemos tempos difíceis em nossa sociedade, pois a pandemia nos mostrou “um outro lado”, lado este, que talvez já havíamos esquecido ou até mesmo superado, principalmente no que tange a educação. 


Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de experiência feitos” com que chegam à escola [...]. (FREIRE, 1996, p. 64).


Sendo assim, se faz necessário resgatarmos um pouco da história da Educação Brasileira, dos períodos de lutas, conquistas, perdas e também retrocessos. Em pleno século XXI, ainda precisamos reafirmar a importância e o valor que a escola pública para o desenvolvimento de uma sociedade, de um país, de uma nação, que a educação é um direito incontestável, um direito humano, garantido em nossa Constituição Federal de 1988. 


Paulo Freire (1996) afirma que ensinar exige alegria e esperança, sendo necessárias à atividade educativa e importante para quem ensina e para quem aprende.  Por isso, em tempos tão difíceis, seja tão importante reforçarmos sobre o ato de avaliar para além de conteúdos e provas. Sobre o ato de aprender para além do espaço da sala de aula. 


Garantir a todos e todas, uma trajetória escolar bem-sucedida é um dever social de cada um de nós, sendo um esforço coletivo de todos os órgãos comprometidos com a educação. Mais do que nunca, precisamos rever nossas ações pedagógicas dentro da escola, respeitando o direito de cada criança, de cada adolescente, de cada jovem de aprender e se desenvolver com seus pares

Crédito: Francesco Tonucci


A avaliação é muito mais do que medir conhecimentos, é uma forma de relação entre o que se aprende e o que se ensina. É procurar entender a realidade e a necessidade de cada criança e de cada estudante. Perceber que cada indivíduo tem uma história diferente, uma forma de ver e perceber as coisas ao seu redor.


Mas por que Freire, para falarmos em avaliação? Porque Freire ainda vive em nossa Educação, em nossos estudos e na maneira de pensar e acreditar no Mundo. Enquanto professora, enquanto pesquisadora, Freire contribui com minha forma de ser e fazer. A inquietude e a preocupação com a verdadeira aprendizagem de meus estudantes, é que me move a estudar cada vez mais. 

Que a escola seja o lugar de emancipação de todos os sujeitos e não da culpalização e do fracasso, e que de fato ela atenda ao direito à educação para todos e todas e para cada um e uma dentro de suas especificidades. 

Que esta carta, seja sinônimo de esperança, de teimosia, de luta e resistência, que por meio destas escritas, destas palavras, possamos compreender e pensar a educação com comprometimento e cuidado com o outro. 


Freire (2001, p.35) nos diz: “É impossível existir sem sonhos” e eu gostaria de encerrar esta carta, que está regada de muito afeto, de muitos sonhos, de muita militância e de luta pela a educação, afirmando: “hoje sou eu que sigo neste caminho, neste constante processo de ensinar e aprender, neste processo de pesquisar, de refletir e de caminhar com passos firmes em busca de uma educação justa, que respeite a todos e todas que dela fazem parte, assim como eu!”. 

Grande abraço e com o coração repleto de esperanças.



Referências

Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire: Sistema Paulo Freire: da Educação Básica à Educação Superior (23: 2022:Santa Cruz do Sul,RS). Anais do XXIII Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire: Sistema Paulo Freire: da Educação Básica à Educação Superior [recurso eletrônico] / organização de Cheron Zanini Moretti…[et. al.], Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – São Leopoldo : Casa Leiria, 2022. p. 245 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia dos Sonhos Possíveis. Ana Maria Araújo Freire organizadora. São Paulo: Editora UNESP, 2001. 

HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: A educação como prática da liberdade. 2 ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.


*Fabiana Machado: Professora na Rede Municipal de Portão, Presidente do Conselho Municipal de Educação, Coordenadora dos CMEs da Regional AMVARC e membro titular do Conselho Fiscal na Uncme Nacional. É uma das Idealizadoras do Projeto "Formação em Prática". Formada em Pedagogia (UNISINOS) e em Gestão Pública (FAEL). Especialização em Supervisão e Orientação (UNISINOS), Ead e as Novas Tecnologias (FAEL) e em Gestão em Educação (UFRGS). Mestra em educação pela UERGS e doutoranda em Educação pela UFRGS.


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