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AS AVENIDAS TAMBÉM CONTAM HISTÓRIAS

Atualizado: 3 de mar.


*Jussara Prates

Avenida Brasil, Portão RS

As avenidas, ruas, estradas e becos constituem o “organismo circulatório” de uma cidade. As cidades, vilas e povoações, ligadas ao longo do tempo através das picadas, trilhas, caminhos, estradas de ferro e de rodagem, e ainda a existência de embarcações, que singram pelas águas, bem demonstram a importância antropogeográfica destas “artérias” que interligam territórios, economia e culturas.

Av. Paulista 1902 Viaduto Otávio Rocha, POA RS, 1929.


Quando se conhece a formação de um espaço urbano, compreende-se melhor a sua história e como a estrutura urbana se processa através da permanente transformação e desenvolvimento da sociedade. Os núcleos urbanos dos municípios são fundamentais para o desenvolvimento e manutenção do comércio, da indústria e da comunicação com outros centros. Além disso, as mudanças no sistema viário acompanham a valorização do espaço ocupado.


Avenida Brasil, 1990/2000 Avenida Brasil, Portão RS, 1972


A disponibilidade de acessos e um adequado fluxo no trânsito facilita o desenvolvimento das cidades. Para isso, projetos precisam ser desenvolvidos e colocados em prática a fim de tornar a vida citadina mais dinâmica. Imaginem que, até poucas décadas atrás, a cidade de Portão não tinha a Avenida Brasil. Acessar os bairros Portão Velho, Estação Portão e Rincão do Cascalho significava atravessar toda a Avenida Ceará ou a Perimetral.... Gastava-se um turno inteiro pra resolver pequenas necessidades e a falta de vias para interligar esses núcleos isolados dificultava e atrasava o crescimento da cidade.


Desde a emancipação havia um projeto de abertura da Avenida, mas a primeira administração não chegou a realizar. Na segunda legislatura essa era uma reivindicação constante da comunidade, especialmente porque o núcleo mais urbanizado, que era o Bairro Estação Portão, estava agonizando devido às dificuldades de isolamento geográfico, esta região contava com importantes indústrias e as dificuldades de escoamento eram um entrave significativo. Nos idos de década de 1970, o senhor Alfredo Lemmertz, conhecido como “seu Alfredinho”, exercia a função de coordenador das obras e começou a defender a campanha pela abertura da Avenida.


Viaduto Alfredo Lemmertz



Contam algumas fontes orais que o prefeito da época, o Sr. Antônio José de Fraga, não via essa como prioridade em seu mandato. Mas, numa saída do prefeito, o seu Alfredinho assumiu a Prefeitura por alguns dias e viu nessa oportunidade a chance de atender a reivindicação da comunidade. Reuniu as poucas máquinas que tinha, conseguiu outras emprestadas com o prefeito de São Sebastião do Caí e deu início a abertura da atual Avenida Brasil.


Certamente essa ousadia gerou certa crise e atritos no governo municipal, mas não há como negar o imenso impacto positivo que ela provocou no desenvolvimento da cidade. Passadas algumas décadas é consenso dizer que a “Avenida” se tornou a principal via de acesso da cidade. Neste contexto, pode-se dizer que as cidades são “humanas”, isto é, além dos espaços físicos e geográficos, existem as pessoas, “o coração” que constroem e dão sentido aos lugares.


Avenida Brasil, Portão, RS (anos 80/90)

A cidade é um lugar de convivência dos agrupamentos humanos que, possuindo vários símbolos culturais e pontos de identificação, modelam a fisionomia de um lugar, e aproximam as pessoas através da sociabilidade e do sentimento de identidade coletiva.


Por vários anos a atual Avenida Brasil era conhecida como a “Transalfredinho”, uma alusão à Transamazônica, iniciada na mesma época. Por mais Alfredinhos no nosso município.




* Jussara Prates é escritora, pesquisadora e produtora cultural, transita em diversas áreas da cultura com obras publicadas sobre educação, projetos escolares, educação antirracista, história, história de municípios, literatura, diversidade e educação para o patrimônio. Ativista pela democratização e acesso a cultura é defensora da educação para o patrimônio como forma de valorização e apropriação do patrimônio cultural como elementos geradores de cidadania e identidades. Foi membra do Colegiado Setorial de Memória e Patrimônio do Rio Grande do Sul, trabalhou na área da Gestão da Cultura, foi uma das idealizadoras e Diretora do Museu e Arquivo Municipal de Portão. Coordenadora dos processos de tombamento do primeiro Patrimônio Natural, o Pinheiro Multissecular e do primeiro Registro de Patrimônio Imaterial, o Festival Internacional de Folclore e uma das Curadoras do Memorial Histórico do Parque do Imigrante, todos em Nova Petrópolis/RS. Foi Diretora de Cultura e Secretária Adjunta de Educação, Cultura e Desporto de Nova Petrópolis. É Conselheira de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, participou como conselheira da 6ª Conferência Estadual de Cultura e representou o CEC/RS na 4ª Conferência Nacional de Cultura em Brasília, atuando ativamente na construção da Política Nacional de Cultura. Atualmente exerce a função de secretária da Diretiva do Conselho Estadual de Cultura/RS.

**Historiadora, Bióloga, Conservadora e Restauradora de Acervos, Pós -graduada em Gestão de Arquivos; Supervisão Educacional; Coordenação Pedagógica; Ecologia e Desenvolvimento Sustentável; Botânica; Zoologia e Diversidade, Cultura e Etnicidade

 
 
 

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