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Por:
*Jussara Prates dos Santos Girardi
De tempos em tempos nascem alguns gênios, e esse parece ter sido o caso de Leonardo Da Vinci. Para compreendermos quão inovadora foi sua produção científica e artística é preciso abstrair a existência do aparato tecnológico e embarcar numa viagem através do tempo. Foi em 15 de abril de 1452 que Leonardo da Vinci nasceu, em Anchiano, vilarejo de Vinci, região da Toscana, próximo à Florença e Lucca. Um pequeno burgo, ainda estruturado nos moldes feudais. Era filho de Caterina di Meo Lippi, uma órfã de 15 anos e um advogado chamado Ser Piero da Vinci. Seu pai o criou em Vinci e, em 1469, o levou para Florença, mudança que marcou a vida do jovem, que, a partir dos 17 anos, passou a acompanhar mais de perto as transformações políticas, socioculturais e econômicas do período sobre o qual emergiu a burguesia e o processo de formação das monarquias nacionais, acompanhadas por mudanças nas ideias, resultando em um grande desenvolvimento da literatura, das artes plásticas e das ciências.
Este período recebeu o nome de Renascimento, pois foi encarado como uma volta à rica cultura da Grécia e Roma antigas que marcou uma nova concepção do homem e do universo inspirada nas obras humanistas dos gregos e romanos, opondo-se à mentalidade medieval. Consequentemente, houve a valorização da razão em detrimento da fé, nas palavras do próprio Da Vinci: “Estudo com paixão à anatomia, porque o homem é o modelo do mundo”. O humanismo florescia e através dessa lente é que este homem brilhante desenvolveu os seus estudos e obras.
Sequer os portugueses haviam chegado ao Brasil e Da Vinci já havia iniciado um dos mais impressionantes levantamentos de anatomia para entender o funcionamento de órgãos, do esqueleto, dos músculos e tendões. Sua contribuição para medicina é de grande importância, apesar de o conhecermos mais como o pintor da Mona Lisa. Foi artista-anatomista, pintor, escultor, músico, cientista, arquiteto, engenheiro, inventor e, sim, também atuou na medicina. Através das suas experiências com a natureza Da Vinci extraiu os seus guias, marcou o seu caminho e deu um passo à frente de seu tempo aproximando-se da natureza e das leis que a governam. Com as suas intuições antecipadoras, considerou a arte e a ciência como tendo a mesma finalidade: o conhecimento da natureza. Para ele a função da pintura era a de representar aos nossos sentidos as coisas naturais. Assim, a arte e a Ciência, ambas se assentavam nos dois pilares de todo o conhecimento verdadeiro da natureza: a experiência sensível e o cálculo matemático racional. Aos seus olhos, a arte é uma ciência que se funde na matemática e na geometria, concepções inovadoras que culminaram na constituição da chamada ciência moderna.
Para Leonardo, a experiência e a matemática revelam a natureza na sua verdade e na sua objetividade, porque tudo na natureza é razão e proporção. E é esta certeza que o levou a interessar-se, também, pela mecânica e a estabelecer os seus princípios. Das máquinas mais conhecidas nos desenhos de Leonardo, e que “a posteriori” algumas foram produzidas, estão o helicóptero, o tanque de guerra, chamado por ele de carro de assalto, um desenho de bicicleta, entre outros, sendo muitos deles envolvidos em movimento rotatório através de manivelas. Também criou um robô que ele montou em uma armadura; não ainda tecnológico, mas cheio de engrenagens e sistemas. Ainda no campo da engenharia militar, Leonardo desenhou canhões, balestras e até roupa de mergulho; máquinas voadoras imitando os movimentos dos pássaros e pontes cobertas para atravessar fossos e muralhas de castelos.
Os escritos sobre a Arte acham-se espalhados por muitas anotações, em margens de cadernos ou folhas isoladas. Muitas vezes, ele as escrevia de trás para diante de modo a ocultá-las de curiosos indesejáveis, e neste caso as anotações precisam ser lidas através de um espelho para serem compreendidas. Contudo, a conclusão de um livro mais sistematizado, organizando as suas ideias, não chegou a se concretizar em seu período de vida.
Encontram-se apontamentos sobre o fato de que ele quase nunca terminava suas obras, o que não reduz sua genialidade. Devemos analisar que Da Vinci foi uma pessoa com um nível de intelectualidade e produtividade que impressiona, e foi um homem determinado que não renunciava a nada. Era obstinado, incansável na busca pelo saber cientifico, pela perfeição, pelo belo, e essas características nos dão as ferramentas para entendê-lo e apreciar sua produção artística e científica. Possivelmente, fora favorecido por ter vivido por muito tempo em um ambiente riquíssimo, na corte renascentista em Florença, que favoreceu a expansão que o renascimento teve por toda a Europa.
Leonardo foi o responsável pela obra da Última Ceia, no Convento Santa Marie Delle Grazie, em Milão. Talvez seja este o maior exemplo do trabalho em grupo dos pintores da Renascença, pois ele teve o auxílio de vários discípulos, tendo Da Vinci se mudado para o convento para a execução da obra na qual trabalhou sobre estudos de geometria e álgebra e em que levou dois anos para a finalizar. O escritor e frade dominicano, Matteo Bandello relatou que, “durante a confecção de A Última Ceia, Da Vinci – que estudara obsessivamente as cores que aplicaria aos alimentos – subia no andaime e ficava ali dias inteiros, de braços cruzados, examinando o que havia feito, antes de providenciar outra pincelada”.
Em 1503, Leonardo pintou a Mona Lisa, para o mercador Francisco Del Giocondo. Até hoje é sua obra mais famosa e sobre a qual existem muitas controvérsias, dizem que não se trata de Gioconda, esposa do mercador, e sim do próprio Da Vinci, em um experimento, se autorretratando como mulher. Leonardo nunca entregou a obra ao mercador e a guardou até a sua morte.
Podemos olhar para Da Vinci como um dos maiores humanistas de sua época que estudou e pôs em prática a história natural. Seu estudo feito sobre botânica superou o seu tempo. Podemos pensar em um pintor e na sua pintura, mas aos olhos de Da Vinci, a arte se tratava de uma ciência fundada na matemática e na geometria, que destacava este mestre. Dentro do movimento renascentista que iria ser conhecido como a culminação e as bases do método científico moderno, sem dúvida, há um espaço de honra para o brilhantismo de Da Vinci.
Após a morte do artista-anatomista, em 1519, todos os desenhos e textos que ele produziu foram herdados por seu discípulo Francesco Melzi, que os guardou até 1570. A partir daí, os caminhos percorridos pelas folhas dos diversos cadernos de Leonardo são pouco conhecidos. Há evidências de que desde 1690 elas já estavam na Biblioteca Real de Windsor, Inglaterra, como parte da coleção real, salvaguardados junto à corte.
* Jussara Prates dos santos Girardi - Escritora, historiadora, especialista em Educação e em Gestão de Arquivos. Graduanda em Biologia.
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