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O blog SINAPSE CULTURAL é um espaço de compartilhamento de ideias, opiniões e conhecimentos sobre Educação, Arte, Cultura, Informação, Política e Saúde, nas suas complexas formas de manifestações.
Por:
*Jussara Prates dos Santos Girardi
Neste período de pandemia afloraram questões interessantes acerca das relações de trabalho e do trabalho no Brasil. Quando se iniciou o isolamento social emergiu a necessidade urgente de uma política pública que “socorresse” a economia. Nessa direção, o auxílio emergencial descortinou milhares de trabalhadores invisíveis ao sistema, que trabalham muito, contribuem na movimentação da gigantesca engrenagem financeira e que, até então, viviam com certa autonomia do Estado, sem estarem vinculados a nenhuma política social ou trabalhista.
Não há dúvidas de que este período insólito tem ensinado muitas coisas, entre elas está o fato de que, mesmo nas piores situações, é possível aprender. Essa crise pandêmica, que inviabilizou os trabalhadores informais e liberais de trabalhar com plenitude, pode servir de base para entendermos melhor acerca das mudanças ocorridas nas relações de trabalho nas últimas décadas. Esse olhar mostra também que ainda somos formados e educados com base em conceitos e modelos “tradicionais” sobre o trabalho, os quais já mudaram mas, culturalmente, ainda resistimos, fechando os olhos à essas mudanças.
Com base neste período pandêmico é imprescindível compreender, estudar e analisar mais profundamente as relações de trabalho e as diferentes estratégias de geração de renda existentes (que não são novas, mas eram invisíveis ao sistema). Isso é necessário para desenvolver ações educativas e formativas mais adequadas ao momento atual, pois ainda somos educados, (educação formal e não formal), com o propósito de formar “mão-de-obra”, para uma indústria ou economia que não existem mais. Ainda incutimos nos jovens o propósito de estudar, crescer e encontrar um trabalho, com CLT de preferência, e partir numa longa, e cada vez mais prolongada, jornada em busca da sonhada aposentadoria.
A questão é que, há tempos, não há espaço para todos neste modelo econômico que, aliás, para alguns, é o “ideal” e muitos ficam perdidos quando precisam partir em outras direções, estando, quase sempre, despreparados e sem objetivos definidos quanto a carreira, ao trabalho, à sobrevivência e ao seu propósito de vida.
Nessa odisseia, uns tentam empreender, outros se seguram em subempregos, os chamados “bicos”, outros partem em busca de um concurso público, buscando a sonhada estabilidade, e assim por diante.
A escolaridade ainda está longe de ser a ideal e há dificuldades em todos os campos e, mesmo para quem galgou passos no mundo acadêmico, é fato: não há um pote de ouro no final do arco íris e a luta é árdua e constante.
Nesse contexto, com o prolongamento da quarentena, que avançou ao longo do ano, houve um estrangulamento econômico dos trabalhadores do segmento cultural e para aliviar o sufoco foi instituída, como política pública, a Lei Aldir Blanc, trazendo um sopro de luz para estabelecimentos, artistas e entidades vinculados à Cultura. Num primeiro momento, parecia ter resolvido a problemática do setor. Mas, o que era para ser simples e ágil, deu início a uma série de desdobramentos e revelou o longo caminho a ser percorrido para a profissionalização e planejamento do setor, assim como de outros segmentos ditos “informais”, pois houveram inúmeras dificuldades para preencher cadastros e para a adequada elaboração, gestão dos projetos e iniciativas a serem contemplados.
Tudo isso reforça a tese de que é necessário revermos os modelos e as "pré-concepções" acerca das relações de trabalho, do trabalho e dos desdobramentos da geração de renda. De que as gestões públicas precisam estudar e tabular os dados estatísticos, sociais e econômicos para desenvolver políticas públicas adequadas e mais assertivas a fim de promover a emancipação financeira da sociedade, assim como traçar estratégias educacionais contextualizadas e voltadas a realidade, com previsão das mudanças futuras. As políticas deveriam antecipar-se às mudanças e não se limitar a correr atrás.
É por isso que defendo o ensino, nas diferentes fases da educação básica e superior, a partir de projetos pedagógicos e multidisciplinares, cujos temas sejam do interesse tanto dos educandos quanto dos educadores. O estreitamento da relação entre pesquisa e conhecimento transforma alunos e educadores em protagonistas e produtores de conhecimento. Sabe-se que o desenvolvimento da prática de projetos muda a relação entre alunos e comunidade. Quando os estudantes deixam de ser meramente espectadores passam a exercer de fato sua função de ser social, histórico e transformador. Essas são aprendizagens e vivências que o acompanharão sempre, tanto nas relações pessoais quanto profissionais.
A vida exige, cada vez mais, que se aprenda a fazer planejamento, traçar estratégias coerentes, com definição de metas, a fim de se obter êxito nas ações e iniciativas, seja algo simples, do dia-a-dia, ou algo mais complexo e arriscado. Aprender sobre gestão de projetos oportuniza a desenvolver um conjunto de conhecimentos, habilidades, técnicas e ferramentas necessárias para planejar, executar e monitorar um projeto, garantindo que ele seja exitoso, respeitando prazos e metas.
Ao observar dados a respeito dos empreendimentos que fracassam logo nos primeiros anos no Brasil, tem-se a certeza de que a educação e formação não tem contribuído para a emancipação econômica e social. Com os acontecimentos de 2020-2021, ficou visível que a tão sonhada educação transformadora e emancipadora figura ainda como um sonho distante.
Que após este período tão desafiador, tenhamos sabedoria para aprender a aprender.
* Jussara Prates dos Santos Girardi - Escritora, historiadora, especialista em Educação e em Gestão de Arquivos. Graduada em Biologia. Conservadora-Restauradora, registro ACOR-RS 087-19S
Autora da obra, A Educação Democrática e as contribuições dos projetos escolares. https://www.editoradialetica.com/product-page/a-educa%C3%A7%C3%A3o-democr%C3%A1tica-e-as-contribui%C3%A7%C3%B5es-dos-projetos-escolares
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