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Foto do escritorJussara Prates dos Santos Girardi

O ensino sobre o protagonismo no combate ao racismo


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Por:

*Jussara Prates dos Santos Girardi


Passados dos quinhentos anos da chegada dos portugueses em solo brasileiro, nos deparamos numa realidade de controvérsias, antagonismos, polaridades e segregação. Chegamos ao ponto em que tomamos cuidado para não falar nada que possa gerar divergências, discussões e reflexões.


Ora, mas como iremos avançar como sociedade e nação se simplesmente deixarmos de falar sobre questões ou temas relevantes e “incômodos”? Precisamos (re)tomar nosso senso humano, com vistas a contribuir positivamente para formar um país, do qual todos os brasileiros se sintam orgulhosos, respeitados e acolhidos, independentemente da cor, gênero ou classe social.


E sim! Precisamos falar sobre intolerância, preconceito, racismo, segregação racial e sobre todos os prejuízos sofridos quando essas questões afloram. Se revisitarmos a história do Brasil veremos que, ao longo de gerações, os negros que sucederam a época de escravidão sofreram diversos níveis de preconceito.

Lembremos, ainda, que após a abolição eles compunham grande parte da população e não foram inseridos no processo de desenvolvimento do território nacional. Milhares de ex-escravos e seus descendentes foram deixados à margem, literalmente marginalizados, enquanto o Brasil continuava a receber milhares de imigrantes brancos, rapidamente acolhidos e cooptados pelo processo econômico agrícola-exportador do país. As consequências desse abandono social foram danosas ao longo de muitas gerações. Por isso, é necessário que o prejuízo desse processo histórico seja reduzido através de políticas públicas, que promovam o desenvolvimento integral da sociedade brasileira, sem preconceito, sem racismo, homofobia e misoginia.


Neste sentido, compreende-se que a luta pela igualdade, preservação da cultura afro-brasileira, contra a desigualdade social, todas as formas de racismo que contemplam a exclusão no mercado de trabalho, na cultura e no cenário acadêmico, devem ser contínuas. Sim! a luta deve ser diária, assim como para todos os brasileiros, ignorar ou negar os preconceitos que assolam o Brasil é inaceitável deve-se enfatizar o diálogo e a reflexão, com vistas à transformação social e cultural.


A imensa contribuição e influência afro na composição da nossa brasilidade faz do racismo uma imbecilidade, uma ignorância. Influências como o Samba, Carimbó, Maxixe, Maculelê, Maracatu, a utilização de instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Atabaque, Berimbau e Tambor. As expressões corporais nas formas de dançar, tanto as formas tradicionais quantos os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé baiano. Além da capoeira que é uma mistura de dança, música e artes marciais, tendo sido declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.

Além disso, a contribuição na culinária, tendo introduzido o uso das panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre outros. Apesar de serem mais conhecidos da culinária baiana, preparados com azeite dendê e pimentas, devemos lembrar que as escravas domésticas foram alterando sabores e introduzindo temperos ao pratos dos senhorios. Ao alterarem e adaptarem receitas trazidas da Europa foram aos poucos criando a culinária brasileira com destaque ao uso da carne-de-sol ou charque, além dos doces de pamonha, cocada e, é claro, o mais brasileiro de todos os pratos: a feijoada.

Outras contribuições importantes estão no sincretismo religioso os quais uniram aspectos do cristianismo às suas tradições religiosas, sendo o culto a Iemanjá um dos principais exemplos.


Tratar uma temática tão complexa como a história do negro no Brasil é um exercício de busca nas nossas principais raízes culturais, nas quais estão inseridas cerca de 50% da população brasileira. O fortalecimento desta construção identitária passa pelo trabalho de reconstrução do seu lugar social, marcado por múltiplas rupturas e traumatismos na trajetória de sua própria história. E, principalmente pela mudança no ensino, onde deveria-se ensinar mais sobre os protagonismos dessa importante etnia.


Durante a escravidão, os negros procuraram resistir ao cativeiro das mais diversas formas: sendo a formação de quilombos e irmandades religiosas as mais comentadas. Após a abolição da escravidão, espalharam-se por todo o Brasil vozes que ecoavam a luta de Zumbi dos Palmares. Em todos os recantos, de norte a sul do Brasil, surgiram os quilombos como forma de demonstrar a insatisfação do negro diante da liberdade sem reconhecimento do trabalho no cativeiro por mais de três séculos. Hoje, a ideia de quilombo remete aos grupos que desenvolveram práticas cotidianas de resistência, na manutenção e reprodução de modos de vida característicos na constituição de um território próprio.


Outras formas de resistência menos comentadas e quase desconhecidas, devido a “invisibilidade” do protagonismo dos negros no Brasil, embora visíveis no dia a dia, foram empreendidas com muito talento, precisão e obstinação. Podemos ver isso nas obras de Aleijadinho, maior expoente do barroco brasileiro, nasceu escravo por ser filho de mãe escrava, em 1730;


Maria Firmina do Reis, escritora e professora nascida em 1822; André Rebouças, engenheiro e ativista político, nascido em 1838; José do Patrocínio, farmacêutico e político, nascido em 1853; Nilo Peçanha, o primeiro negro Presidente do Brasil , nascido em 1867; Pixinguinha foi músico, compositor e arranjador, nascido em 1897; Antonieta de Barros foi professora, jornalista e deputada, nascida em 1901; Carolina de Jesus, escritora, nascida em 1914; Milton Santos, cientista geógrafo, um pesquisador respeitado e estudado em diferentes países, ainda é pouco estudado no Brasil, considerando a relevância da sua obra, nascido em 1926. Entre outros protagonistas da arte, da ciência e do jornalismo e da política temos Machado de Assis que foi escritor, jornalista e poeta, nascido em 1839. Sem dúvida um expoente da literatura luso brasileira.


E se isso não for o suficiente para mudar conceitos e olhares sobre a questão do racismo, convido-os a revisitar as obras de artistas que retratam o Brasil e verás o registro iconográfico da grande contribuição como força de trabalho e aplicação de técnica no desenvolvimento do Brasil. Sugiro começar com as obras de Debret.

Precisamos (re)estudar a história do Brasil e compreender o processo de miscigenação e especificidades que formam o povo brasileiro. É preciso desarmar-se dos “pré”-conceitos e estigmas e valorizar o ser humano como único e essencial para fortalecer a história e a memória coletiva, resultando em reflexões relevantes para o sentido de pertencimento e brasilidade. O racismo não faz sentido!


*Jussara Prates dos santos Girardi - Escritora, historiadora, especialista em Educação e em Gestão de Arquivos. Graduanda em Biologia.

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